Artigo escrito para o portal de conteúdo Snaq.co
Não, apesar do lançamento da nota de R$ 200, o setor financeiro não vai regredir à era do papel moeda. Talvez o modelo de negócio esteja retornando para algo visto na era “pré fintechs”, mas com um nível muito maior de competição e tecnologia.
Em um mundo distante, onde ter conta em banco se limitava a praticamente 5 opções, todas elas muito parecidas, o banco era o one-stop-shop de serviços financeiros. Conta corrente, investimentos, cartão de crédito e débito, financiamento imobiliário, seguros, crédito pessoal... tudo no mesmo lugar.
Como sabemos, essas opções nem sempre atendiam ou agradavam aos clientes e o nascimento das fintechs se deu justamente para resolver essas dores. Mas diferente dos bancos, essas startups não nasceram para resolver todos os problemas ao mesmo tempo, mas sim focar em uma dor específica e, com o tempo, talvez agregar outros produtos.
Assim, vimos surgir, por exemplo, o cartão de crédito do Nubank, a conta digital da Neon, o crédito com garantia da Creditas e a plataforma de investimentos da XP. Diversas soluções que conquistaram milhões de clientes, cada qual com seu produto e nicho.
Isso gerou o fracionamento da vida financeira do cliente, que ao invés de usar um único provedor de soluções financeiras e ter um “pacote completo", passou a selecionar as soluções que melhor lhe atendiam em diferentes instituições.
Não é raro encontrar um amigo ou conhecido que tenha conta no Itaú, cartão de crédito do Nubank e invista pela XP. Apesar de cada uma dessas empresas oferecerem excelentes produtos e resolverem individualmente as dores e necessidades de seus clientes, gerou para as pessoas o inconveniente de terem várias contas diferentes, ‘várias senhas diferentes, vários aplicativos diferentes e várias experiências de usuário diferentes. Além dos dados financeiros distribuídos entre diversas instituições.
Somando esse cenário à agenda de inovação do Banco Central, ganhou força o Open Banking. Sistema baseado no princípio de que o cliente é dono dos próprios dados e, se autorizado por ele, bancos e fintechs devem compartilhar esses dados com outras instituições. Além do compartilhamento, o sistema deve permitir ainda a interoperabilidade entre as instituições.
Nesse cenário, o cliente poderá ter cada produto ou serviço em uma instituição mas operar tudo por um aplicativo único de sua escolha, com a experiência que melhor lhe atenda.
Então por que o modelo estaria voltando ao passado?
Como parte de seu caminho natural, startups e empresas insurgentes começam resolvendo um problema específico e, com o tempo, aumentam sua oferta de produtos, o que permite atrair novos clientes além de aumentar a receita na base já conquistada.
Além do cartão, o Nubank já oferece conta digital, programa de recompensas, investimento automático do saldo em conta, crédito e conta PJ. A XP anunciou recentemente o lançamento do seu banco, com oferta de crédito, cartão e conta digital. Em julho, a Neon comprou a Magliano, corretora mais antiga do mercado, o C6 está desenvolvendo seu home broker, o Banco Inter já tem a sua plataforma de investimentos, entre diversos outros exemplos.
O que estamos vendo é um ponto de inflexão e a volta do one-stop-shop da vida financeira, só que dessa vez com algumas dezenas de opções ao invés de apenas cinco. Empresas que antes eram complementares passam a ser concorrentes, além de uma onda crescente de fusões e aquisições para complementar a oferta de produtos.
Hoje, vemos um crescimento expressivo das bases de clientes de bancos, fintechs e plataformas de investimento, com um overlap relevante nessas bases só que ainda sem necessariamente um cenário de “rouba monte”.
Mas quando XP, Itaú e Nubank tiverem suas cestas completas de produtos, qual deles vai ter de fato o cliente do exemplo acima? Ele vai continuar usando as três instituições deste exemplo ou voltará para o modelo de one-stop-shop?
Quanto ao Open Banking, segundo o Banco Central, o sistema será implementado em 4 fases - a primeira prevista já para novembro desse ano e a última para outubro de 2021 - e deve estar operando plenamente antes do final do próximo ano.
Apesar de um aparente retorno ao passado, em termos de experiência, uma certeza é que todo esse movimento irá resultar em um número maior de instituições competindo em um mercado que se permitiu concentrar demais nas últimas décadas.
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